resenha
Texto:
Educação na América Latina: Identidade e globalização. Publicado na revista
Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 2, p. 157-165, maio/ago. 2008.
Autor:
Benno Sander. Doutor (Ph. D.) em Educação pela Pontifícia Universidade Católica
de Washigton, DC. É professor titular aposentado da UFF e foi professor da UNB,
da FLACSO/Argentina e da Universidade de Harvard. Foi diretor de Educação e
Políticas Sociais da OEA. Atualmente é presidente da Associação Nacional de
Política e Administração da Educação – ANPAE.
O
artigo de Sander, por ele denominado ensaio, tem por objetivo estudar e
interpretar o fenômeno da globalização e da situação da educação na América
Latina no contexto do mundo globalizado. Revelar como a globalização afeta a
história latino-americana, especialmente a história da educação. Revelar como
os valores se socializam na América Latina, pelos organismos internacionais e,
nesse contexto examinar sua contribuição ou intervenção na reformulação de
políticas públicas e na adoção de práticas educacionais.
O
texto é dividido em quatro partes: introdução, promessas e falácias da
globalização, o papel das organizações internacionais e à guisa de conclusão.
O
autor inicia o texto partindo da premissa que só é possível examinar
compreensivelmente os problemas sociais, locais e regionais no contexto global
que se inserem. A história da educação latino-americana das últimas décadas foi
decisivamente influenciada pelo pensamento sociológico que se desenvolveu na
América latina, desde meados do século XX. Entre os movimentos desça-se a
teoria da dependência.
Uma
das preocupações permanentes do pensamento latino-americano, nele incluindo a
teoria da dependência sempre foi a busca incessante de identidade,
reiteradamente ameaçada pela intervenção política e cultural externa.
Atualmente este busca assume maior relevância visto que hoje confrontamos novos
mecanismos de interdependência desigual nos distintos campos da atividade
humana, incluindo a educação.
O
autor mostra como a globalização afeta nossa história e discorre sobre os
efeitos deste processo. Segundo ele, a globalização é um fenômeno
essencialmente europeu que se confunde com a formação da própria civilização
ocidental nos primórdios da era moderna. No século XX esgota-se a fase da
globalização colonial e consolida-se a atual fase da globalização econômica,
capitaneada pelo colonialismo norte-americano.
No
cenário político, a palavra de ordem dos protagonistas liberais da globalização
da economia e da atividade humana é a expansão da democracia à moda ocidental.
Este processo tem limitações, a globalização da economia e da atividade humana
oferece oportunidades a sociedades e indivíduos de todo o mundo, mas seus
benefícios não se distribuem de forma equitativa.
Em
seguida o autor pontua que existe uma extensa literatura especializada sobre
globalização e faz considerações sobre algumas delas.
Segundo
o autor as duas últimas décadas foram testemunhas da enorme influencia de
alguns movimentos patrocinados pelos organismos de cooperação e financiamento
internacional para direcionar ou redirecionar as políticas públicas no campo
específico da educação latino-americana.
Do
universo das organizações internacionais e regional que vêm influenciando o
processo de políticas públicas e orientando o desenvolvimento no campo da
educação, o autor limitou seus comentários à experiência latino-americana
referindo-se em particular à ação da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),
da Organização dos Estados Americanos (OEA), do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial (BIRD). Cita que a ação mais duradoura
na educação latino-americana foi patrocinada pela UNESCO e enfocava a
descentralização na gestão da educação, de inspiração liberal, mas combinada
com um sistema de planejamento baseado na experiência de planificação central
dos países socialistas.
Com
a drástica redução de recursos para a educação em todo o mundo, ocasionada pela
retirada dos Estados Unidos da UNESCO, seguido por Inglaterra e Singapura, os
bancos internacionais, especialmente o Banco Mundial, passaram a investir
maciçamente em educação nos países em desenvolvimento.
No
início da década de 1990 a CEPAL e a UNESCO, publicam o livro Educação e conhecimento: transformação
produtiva com equidade (1992). Com este documento a CEPAL abandona a teoria da dependência e adota o paradigma da globalização.
Segundo
o autor o episódio de 11 de setembro nos Estados Unidos representa o marco de
surgimento de uma nova época. Uma época em que não existem ilhas de prosperidade
e segurança na aldeia global. Neste sentido, os atuais desenvolvimentos, em
particular a ONU, enfrentam desafios sem precedentes para cumprir a missão para
a qual foram criados em 1940. Estes desafios afetarão as agendas educacionais e
os esforços de construção da nossa identidade cultural e educacional.
Segundo
o autor, que faz referencia a Paulo Freire e Pablo Neruda como personalidades que contribuíram para criação de uma pedagogia latino americana. Segundo o autor a tarefa central para enfrentar o desafio de preservar nossa identidade cultural
e investir permanentemente na construção de uma pedagogia brasileira, aberta e
universal, e destinada a fortalecer nossa capacidade de participação na
definição dos destinos coletivos da humanidade.
A
leitura do texto é muito relevante para todos os educadores, pois segundo o
autor está em nossas mãos construir esta pedagogia. O texto é especialmente
desafiador para nos que nos propomos a estudar os problemas sociais e políticos
que nossas escolas enfrentam, nos tornando produtores de conhecimento.
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